Lembro-me de que todos os dias quando eu deixava aquela UTI com os braços vazios, sem minha Laís, e encostava a cabeça no vidro do ônibus durante a volta pra casa, refletia em meio a algumas discretas lágrimas:
“Será que ela vai sair daquele hospital um dia sendo protegida pelo meu abraço?
Será que vou ter a oportunidade em um dia vê-la se apresentar na escolinha?
Será que ela um dia vai me desenhar no Dia dos Pais e entregar um cartãozinho?
Será que a vida me permitirá ver uma linda apresentação de dança dela?
Será isso?… será aquilo?… será? será? será?…”
São tantos “será?” diários que minha família é obrigada a conviver desde que nosso milagre veio ao mundo com 29 semanas de gestação e passou 80 dias internada, que prefiro nem estender pra faca não girar ainda mais aqui dentro…
Mas, hoje, um desses tais “será?” caiu por terra.
Aliás, mais um deles, né? Já que, desde sempre, essa pequena já percebeu que precisa não atingir, mas superar seus limites sempre que um novo “será?” resolver cruzar seu caminho para lhe propor um desafio.
Esse vídeo é de hoje cedo. Minha companheirinha se apresentando no ballet da escolinha – como qualquer outra criança.
Se estou orgulhoso? Muito!
Qualquer coisa que eu diga aqui não conseguirá reproduzir toda felicidade que transborda em minha alma neste dia inesquecível.
Hoje ela foi aplaudida, e chorei por vê-la botando o dedo na cara do impossivel de novo.
Só eu sei os dias de luta que foram necessários para que esse dia de glória se fizesse presente em nossas vidas.
99% mérito dela com o braço direito de Deus! Esforçada! Guerreira! Ama viver! Não se intimida! Sabe que é capaz e que pode ser o que quiser ser enquanto respirar!
1% de mérito para os que lhe cercam e lhe dão o suporte necessário. Família, parentes, amigos próximos, médicos, especialistas, escolinha…
Uma professora da vida que sempre enxerga o copo mais cheio e me ensina muito mais sobre a vida do que muitos adultos já tentaram condicionar ao longo de quase 33 anos que estou nessa terra de poucas perspectivas mais sensíveis.
A exatidão dos movimentos na dança é o que menos importa agora. Isso virá com o tempo. O tempo dela. O tempo de Deus. Do jeito que sempre foi sem desamparos.
A resposta de tudo é ela estar ali, à vontade, solta, dona de si, buscando aprender, fazendo amiguinhos, respeitando ao próximo e, principalmente, sendo feliz como ela é sem a necessidade em se portar igual aos demais. Uma joia rara, única, radiante… um diamante.
E o que é mais valioso que a felicidade pura de uma filha?
Pois é…
Não importa o que ela já tenha passado ou ainda vá passar, o importante é que já percebeu o quão é imbativelmente uma grande vencedora.
A Laís não se assusta mais com nenhum “será?” pq ela se acostumou a colocar todos eles no bolso e mostrar que no desenvolvimento dela manda ela.
Te amo, meu orgulho. Nunca estará sozinha. Ao infinito e além!
E que assim seja. Amém.