O mais lúcido entre todos os rockstars do Brasil é, sem dúvidas, Humberto Gessinger.
O cara que, com propriedade e referências incontestáveis, cantava o hoje ainda lá, nos longínquos anos 80, com a sabedoria de quem certamente visitou o futuro e, generosamente, regressou para alertar seus iguais.
Mas é claro que sua obra, solo ou via Engenheiros do Hawaii, não tem o reconhecimento que merece na história da música deste país que, inclusive, passou a alimentar uma cultura cada dia mais controversa, reacionária e hipócrita por seus próprios produtores culturais.
Quando imaginamos ser possível artistas aplaudirem a marginalização da própria arte?
Cada fraseado de Humberto é uma luz amarela que se acende em nosso hall de paradigmas a serem dilacerados; cada canção publicada pelo multiartista é uma palestra que, como poucas, nos faz pensar na cama; e, cada álbum lançado é um livro capaz de libertar as mentes mais aprisionadas.
Todo absurdo que aparente ser novidade a você ou a mim em 2019, para 1Berto era uma realidade há mais de três décadas. Um brasileiro totalmente à frente de seu tempo que merecia ter seu microfone bem mais ressonante do que tem tido na grande mídia e em nossos fones – que mais fazem os ouvidos sangrarem do que o cérebro se exercitar de fato.
Mas isso jamais acontecerá pq a música de Gessinger só inspira quem se propõe em refletir acerca dela. Não são apenas acordes, são fôlegos que pensamos já nem ter; não são apenas letras, são murros transformadores na boca do estômago.
Cérebros invioláveis jamais serão capazes de compreender a sutileza e a agressividade de suas composições, ou, menos ainda, desfrutá-las como sendo acalantos ao emburrecimento social no qual estamos expostos 24 por 48 horas.
Se você ouvir a mesma música dele por dez anos, todos os dias, não haverá uma só audição em que não enxergará um novo elemento para aguçar sua reflexão e percepção de mundo. Cada play, um aprendizado.
1Berto representa uma voz que precisa ecoar com força mais bruta neste país intelectualmente preguiçoso.
Que privilégio ter nascido no país dessa mente brilhante chamada Humberto Gessinger.