…Era pouco depois da meia noite, quando, já deitado e prestes a pegar no sono profundo, sinto um aperto diferente no peito que me sufocou momentaneamente e me fez levantar para observar minha pequena dormindo. Foi providencial.
Com olhar dela parado e fixado no nada, pedi para minha esposa correr e acender as luzes. Puxei a Laís e lá estava ela, convulsionando em silêncio, na madrugada, expelindo saliva e com o bracinho direito tendo espasmos (que não foi possível ver de imediato, pois o corpo estava por cima, já que ela estava de lado).
Naquele dia ela estava prestes a completar 5 anos e meio, e uma convulsão jamais havia acontecido nesse período mesmo diante de tudo o que vivemos desde seu nascimento no que se refere a saúde.
Sem uma certeza do que de fato ela estava tendo e, portanto, sem qualquer noção de um primeiro socorro, coloquei-a em meus braços e saí pelas ruas vazias do meu bairro em busca de um carro que pudesse nos levar a um pronto socorro. Correndo e chorando por ajuda, em meu colo, ela, inconsciente e com os olhos ainda paralisados, gemia baixinho como se dissesse: “socorro, papai”. E assim foi até o hospital, quando chegou ainda convulsionando…
Enquanto ela era atendida para conter a crise e, posteriormente, para realização de exames preliminares que identificariam o que motivou aquilo, minha esposa e eu nos mantivemos no leito, ao lado dela, segurando suas mãozinhas e orando enquanto as lágrimas desciam pelo desespero em talvez vivenciar o pior naquele que já era o pior dia desde que ela nasceu.
– Meu Deus, e se nós tivéssemos pego no sono? Será que, ao acordar pela manhã, ela ainda estaria conosco?
Meu Deus, e se ela estivesse no berço como sempre fica, mas que, por alguma motivo inexplicável, aquele dia dormiu ao nosso lado na cama? A gente só a encontraria pela manhã também.
Meu Deus, e se ela não estivesse de lado? Poderia ter engasgado com a saliva… enfim…
Foram e são muitos os questionamentos que ainda permeiam aquela madrugada de junho de 2019. O pior dia do nosso ano. O mais terrível. O mais injusto com ela – devido todo amor que tem pela vida e esforço diário em se desenvolver saudavelmente.
Mas como sempre Deus tem colocado suas mãos. Foram muitas orações de pessoas próximas que souberam do ocorrido. Muitas religiões, cada uma em sua fé e positividade particular – a quem novamente somos gratos.
De lá pra cá, os tratamentos que já eram parte da rotina quase que diária da Laís (como fono, psicólogo, T.O, fisio, etc.), se intensificou ainda mais com o neuro e o diagnóstico de epilepsia, que lhe obriga ser medicada duas vezes ao dia desde então.
Além da epilepsia, 2019 nos reservou o tão esperado e dolorido diagnóstico da Laís, uma vez que, estávamos há anos buscando tratamento sem sabermos o que de fato ela tinha.
Paralisia cerebral.
Decorrente da hemorragia intracraniana que ela teve durante seus 80 dias de UTI Neonatal, em 2014. Essa hemorragia, que é uma espécie de AVC, aconteceu no lado esquerdo do cérebro e comprometeu consideravelmente seu progresso mental.
Ter o martelo batido pela medicina de que minha filha é deficiente tem sido algo que ainda estou digerindo enquanto pais. Não é fácil ouvir. Dói muito. Penso no futuro dela em quando a mãe dela e eu não estivermos mais aqui. Mas devemos correr contra o tempo para sermos os facilitadores para que conquiste autonomia e independência ao máximo. Que eu sofra hoje para ela sorrir amanhã.
Portanto, é isso o que trataremos daqui pra frente: paralisia cerebral e epilepsia – enquanto investigaremos também o autismo até seus 10 aninhos.
Tudo isso sem desgrudar das mãos de Deus. Sempre na certeza de que ela será novamente acometida por um milagre e vencerá todas essas adversidades, uma a uma. Temos fé em sua plasticidade para tornar sadio o que hoje é enfermo dentro de sua condição cerebral atual. Diagnóstico não é sentença, mas sim, apenas diagnóstico – e amanhã, se Deus quiser, não será mais nem isso. 🙏🏼
05 DE JANEIRO DE 2020… 🎁
Contei tudo isso para dizer que hoje, mesmo depois de um ano pesadíssimo, ela completa seis anos e está aqui em casa feliz e radiante, mesmo sem saber direito o que significa fazer aniversário.
E neste dia especial em que um ciclo novo se inicia para ela, quero muito pedir a vocês, amigxs, orações e vibrações positivas à minha filha, por favor.
Além de fazer todo tratamento e passar por toda dificuldade sem aparentar tristeza ou reclamação, Laís é pura e amável com todos. Por isso nos ensina tanto sobre o valor da vida e das pequenas conquistas do dia a dia.
Que ela tenha um ano abençoado em seu desenvolvimento. Que não sofra rejeição de amiguinhos, que se adapte à 1° série na escolinha, que não convulsione, que aprenda a falar, enfim… que continue emanando alegria por onde passa.
Parabéns, meu amor. Você NUNCA estará sozinha, o papai estando ou não fisicamente por aqui. ❤