O abandono paterno que sofri somado ao nascimento prematuro e a deficiência da minha filha, talvez sejam as circunstâncias de vida que mais me machucaram intimamente desde que vim ao mundo – há 34 anos.
Hoje, a paternidade, a prematuridade e a inclusão, são temas que carrego debaixo dos braços com muito orgulho. Estão em meus livros, artigos, crônicas, palestras, rodas de conversa e apresentações que faço por aí com objetivo em amenizar, de alguma forma, a dor das pessoas que atualmente sofrem com problemas similares ao que sofri/sofro.
Fiz de minhas feridas, minhas causas. E, mais do que demorar a perceber, custei mesmo em acreditar e aceitar.
A reflexão que fica, é: será que essa cicatriz, que marcou negativamente sua alma e diariamente martela seus pensamentos com a clássica “por que eu?”, não está diretamente relacionada ao seu propósito ou missão de vida?
Será que você não foi escolhido para viver esse cenário obscuro simplesmente com a finalidade de vencê-lo corajosamente para inspirar alguém ou alguns e, principalmente, para se tornar capaz de transformar todo ódio e revolta em amor e positividade ao próximo?
Muitas vezes passamos décadas buscando compreender qual nosso real papel na sociedade e o que viemos fazer nesse mundo. E não somos os únicos. Milhões de pessoas nos deixam todos os dias sem que tenham compreendido seus propósitos, abraçando a morte com a sensação de que não fez nada útil por aqui além de um aparente passeio.
Mas, não.
Não há quem seja concebido sem propósito, sem missão. Todos temos um motivo plausível para estarmos aqui. Somos todos importantes e indispensáveis à própria existência, para uma evolução particular, ou à existência de outras pessoas e/ou situações, no que tange ao rumo que suas vidas podem tomar a partir de nossa existência.
Contudo, o fato de milhões não acreditarem na tese de que o sentido da vida talvez esteja diretamente ligado ao que mais lhes machucou intimamente, é o que faz muitos virem e irem com o sentimento de “jamais mereci estar aqui”.
Quais aprendizados você extraiu de sua aflição?
Aliás, o que você pretende fazer com essa agonia? Apenas se lamentar e seguir vegetando, ou bater aquela poeira (que há anos lhe assombra) para dar um basta e acordar todas as manhãs motivadx em desfrutar uma felicidade que é sua por direito – mesmo quando abrir esse baú seja tão angustiante quanto uma navalha na face?
O sentido da vida pode estar no lugar mais inesperado e menos visitado por você em você mesmo.
Acredite: é no cantinho mais escuro que a tão almejada luz figura para fazer tudo valer a pena, tudo fazer sentido, e claro, proporcionar que você volte a sorrir com o olhar.
Revisite-o, revisite-a. Permita-se. Ainda há tempo. Sempre há!