Era uma vez…
Um cumpridor de expediente da área de recrutamento foi demitido por acreditar que a grande essência de um bom profissional está mais no ‘H’ do que no ‘R’, tanto para os candidatos quanto para os colaboradores da própria área – que precisavam fazer a roda de contratações assertivas girar.
Mas, num universo aculturado ao lastimável “manda quem pode obedece quem tem juízo”, em que pessoas são números que só servem para fabricar números, foi surpreendido com o predomínio do: muita gravata e pouco abraço; muito gesso e pouca autonomia; muito eu e pouco nós. Além dos quase erradicados “por favor”, “com licença” e “obrigado”.
– Você, menino humanizado, quanto sua área fez de resultado este mês?
– Fiz 3, senhor.
– E a equipe?
– Iniciamos uma nova metodologia de trabalho, proporcionando autonomia e transmitindo confiança em cada função. São jovens, mas estão em plena evolução, cada dia mais felizes e entrosados, torcem um para o outro, colaboram, são gratos por estarem conosco, diminuímos os atestados, fazemos atividades motivacionais às sextas, todos opinam nas reuniões, trocamos novos conhecimentos. Vejo-os conversando entre si no café sobre a necessidade em atingir os objetivos da companhia. Querem até marcar encontro entre as famílias, acredita? Tenho aprendido muito com eles e, se conseguirmos manter a evolução, triplicaremos os resultados em poucos meses. Estamos focados.
– E você, menino chibateiro, quanto sua área fez de resultado?
– Fiz 8, senhor.
– E a equipe?
– Difícil, viu!? Não sei o que esse povo quer mais. Salário em dia, benefícios compatíveis com o mercado, e mesmo assim o clima está carregado, as pessoas mal se olham, toda semana equipe desfalcada devido atestado, quando chego fica um silêncio mórbido no ambiente, parece que sou um monstro, bando de ingratos que deveriam me agradecer por desenvolvê-los diariamente. Mas, fique em paz, senhor, pq não dou “boi” mesmo. Já falei que o importante aqui é a empresa e a meta que não pode esperar. Para mim, almoçar sozinho é o de menos.
– Huuum… ok. Menino humanizado, estou lhe demitindo. Você ouve muito seus funcionários, perde muito tempo com feedback e atividades motivacionais, não fiscaliza tudo e todos integralmente. Você não é bom o bastante. Vá estudar e aprender a ser um gestor de equipes, pois está cru. Um chefe de verdade pensa no lucro da empresa; pessoas são facilmente substituíveis.
– Menino chibateiro, parabéns. Tem que mostrar para essa molecada que estão aqui para trabalhar mesmo. Não temos tempo a perder com blá, blá, blá.
Fim.