*se for comentar, leia até o final, por favor
O equívoco da polêmica no caso Suzy começa quando a discussão segue a linha de que a revolta social foi ao abraço do Dr. Drauzio a uma transexual.
Não, gente. Não foi. A revolta social não girou em torno de gênero ou sexualidade, mas do execrável crime em si cometido por um… ser humano. Estamos falando de um alguém que estuprou e matou friamente uma criança de 9 anos, e isso basta. Transcende – e independe – de RG, CPF, identidade de gênero ou condição biológica do indivíduo.
Portanto, não é, em absoluto, uma indignação de cunho transfóbico, da mesma forma como não vejo no preconceito explicação ao fato de Suzy não receber visitas há oito anos.
Não recebe visitas simplesmente pq perdeu sua humanidade, não pq é transexual.
Um heterossexual que estivesse nessa mesma posição sofreria represálias equivalentes, e sabemos disso por, historicamente, termos tantas barbáries cometidas por heteros que, sim, também despertaram a fúria de parte majoritária da população.
Da mesma forma como o Dr. Drauzio foi humano em seu abraço ‘sem olhar a quem’, pessoas que se revoltaram por imaginar a dor daquela família vendo a assassina de seu filho sendo romantizada em rede nacional, também estão sendo humanas, pq não?
* O PRECONCEITO QUE MATA *
Agora, os desvios de conduta, de caráter e alterações na personalidade de Suzy, para que ela chegasse ao ponto de cometer tamanha crueldade, estes sim podem ter, entre outras explicações, sido motivados por preconceito/transfobia, se admitirmos que a pressão de uma sociedade ignorante sobre o que considera diferente, é sim capaz de originar crimes e suicídios – além de transformar pessoas boas em pessoas ruins. Discriminação mata suas vítimas por dentro, na unha.
Trata-se de um outro grande problema social concreto que temos na fuça e não podemos fingir que é invisível. Aliás, é de TODOS. Por isso, a luta por respeito e empatia às minorias e diversidades continua sendo bem maior e completamente fora da bolha.
* UM ABRAÇO COM PODER DIDÁTICO *
Embora considere legítima a repulsa de muita gente para com a selvageria cometida por Suzy, o linchamento pelo qual Dr. Drauzio Varella foi submetido é, além de injusto, um grande absurdo. Se houve qualquer equívoco ou omissão de dados na matéria, acreditem: não é culpa dele. Trata-se de uma questão editorial e jornalística da emissora que produziu e veiculou a reportagem.
Além disso, uma reflexão adicional precisa ser feita também:
Ou nós, seres humanos, somos moradia da fraternidade e da misericórdia, ou somos domicílio do ódio e do rancor.
Digo isto pois, apesar de compreender o comichão em prol de uma sentença que lave a alma e minimamente conforte a família atingida pela perversidade, também acredito que o abraço de Drauzio representa muito alguns predicados de que o ser humano ainda não internalizou embora tanto pregue aos quatro ventos diariamente, como o perdão, o amor ao próximo, a humildade e a fé. Todos eles, inclusive, propagados por Jesus Cristo, homem que, você querendo ou não, em todo o tempo se posicionou avesso à tal da vingança.
Veja bem, somente um ser humano muito evoluído espiritualmente é capaz de praticar o não-julgamento diante de atrocidades intragáveis. E Dr. Drauzio Varella me parece ser um desses raros exemplares, sabe? Uma pessoa de atitude e não discurso, que dedicou toda uma vida ao outro e não apenas a si. Exatamente o que mais precisamos e menos temos nos dias em que vivemos. Mais o ‘nós’; menos o ‘eu’.
Por isso, àqueles que se permitirem observá-lo para captar e se embriagar de suas características humanitárias, certamente terão uma passagem terráquea mais feliz e evoluída. E, se porventura os ensinamentos de Varella não puderem agregar, tenha certeza de que mal também não irão causar.
Claro que me coloco no balaio dos que necessitam de maturidade espiritual, já que também me revolto com situações que considero repulsivas e sem justificativa. A prática do perdão nunca foi fácil e a compreensão sobre algo ou alguém ainda se vende a nós como sendo um grande desafio.
A visão 360 graus de um contexto asqueroso é geralmente turva mesmo, e talvez a única e grande certeza é a de que ainda precisamos aprender muito sobre a vida.