E DAÍ que 5.017 brasileiros tiveram suas vidas e sonhos bruscamente interrompidos?
E DAÍ que centenas de familiares perderam as pessoas que mais amavam?
E DAÍ que o papai nunca mais será o cavalinho de seu filho e/ou verá sua pequena dançar na escolinha para homenageá-lo?
E DAÍ que a mamãe nunca mais sentará com sua filha ao entardecer para, entre beijinhos doces de esquimó, ajudá-la no dever de casa?
E DAÍ que os filhos pegarão seus diplomas, mas não terão a mãe chorando de orgulho na plateia por conhecer toda luta que foi chegar até ali?
E DAÍ que as filhas entrarão na igreja de braços dados com um homem que não será aquele paizão que torceu e prezou tanto por sua felicidade?
E DAÍ que o irmão agora não terá mais seu melhor amigo para gritar e abraçar forte na hora do gol do time de coração?
E DAÍ que a irmã não terá sua confidente especial ao lado para compartilhar medos, anseios e conquistas?
E DAÍ que a esposa não terá mais quem lhe aqueça e, com amor, respeito e admiração, vele seu sono ao término de um dia cansativo?
E DAÍ que o marido não realizará mais aqueles sonhos planejados ao lado de sua alma-gêmea que, aliás, tanto merecia desfrutá-los?
E DAÍ que o vovô, super-herói que escondia dinheirinho no bolso da netinha querida, se foi sem que ela pudesse agradecer e se despedir?
E DAÍ que a vovó, melhor amiga do netinho querido, não fara mais aqueles doces deliciosos e nem lhe contará mais seus causos de quando era pequena?
E DAÍ que a mesa do almoço de domingo agora terá uma cadeira vazia e triste?
E DAÍ que, naquela tão planejada viagem entre os melhores amigos, não estará o dono da melhor risada?
E DAÍ que, na noite de Natal, aquele abraço de ‘eu te amo’ não será mais dado?
E DAÍ que, no retorno às aulas, a carteira do colega mais amável e dedicado de toda turma estará sem ninguém?
E DAÍ que, na volta ao trabalho, aquele companheiro contagiante não estará mais em sua mesa fazendo o dia de toda equipe muito melhor?
E DAÍ que não pode dar o último Adeus ao primo com quem cresceu junto e tomou inúmero banhos de chuva na infância?
E DAÍ que não respeitei a quarentena porque, pra mim, só o que importa sou eu?
E DAÍ que as pessoas que me fizeram estar onde estou agonizaram até a morte?
E DAÍ que esse número é muito maior, porque meu país não é sequer capaz de saber o número real de mortos e infectados?
E DAÍ que você, que acabou de ler este texto, pode ser o próximo a ocupar uma das sepulturas desta foto amanhã?
E DAÍ?
HEIN!?
Brasil, 28 de abril de 2020.