Depois dos 30, as certezas irrevogáveis da esbaforida juventude se esfarelam cada vez que sopramos uma nova vela, passando a dar mais lugar ao uso da palavra “depende”, que vem seguida por uma pausa mais cadenciada e reflexiva enquanto se busca formar uma opinião sobre o mundo, a vida e seus respectivos derivados.
É o ‘calor das emoções’ dando lugar à parcimônia; é a resposta ‘no supetão’ dando lugar ao pensar e questionar.
Pq é exatamente isso mesmo, sabe? DEPENDE.
Depende do contexto, do lugar, das pessoas, das coisas, das condições sociais, dos regimes, do estado de espírito, dos traumas adquiridos na infância, do nível de ensino oportunizado, das perdas, dos privilégios, do algoritmo; depende de quem fez, de quem falou, de quem inventou, de onde saiu, de quem viu, de quem estava lá, de quem contratou, de quem demitiu, de quem escreveu, de quem leu, interpretou e transmitiu, enfim.
Hoje não consigo abrir um texto de opinião (como este!), um livro de história – ou até mesmo a própria Bíblia – sem que um ‘depende’ venha à minha cabeça a cada dois parágrafos. Aos poucos, o tempo mostra que o único dom de nossas certezas é o de, sempre que possível, nos derrubar do cavalo.
Tudo é vivo. Tudo é dinâmico. Tudo flutua o tempo todo… e, numa visão mais quântica da coisa, o ‘tudo’ sequer existe.
Eu, por exemplo, evito dar entrevistas ou fazer lives que me obriguem falar correndo, com taxímetro ligado. Necessito construir um pensamento antes de me expressar. E, antes até de pensar, careço respirar, suspirar, olhar pra cima, buscar uma forma de tornar minha resposta compreensível, popular e didática.
É uma demanda particular que tenho, característica de pessoas com raciocínio e autoconfiança mais lentos. Por isso quase sempre saio frustrado quando me assisto ou me ouço. Há um pavor em parecer presunçoso ou caga-regras, até pq me conheço e sei que posso mudar de opinião sobre algo que falei com razoável convicção há 15 minutos.
Na mesma medida, porém, me encanto ao ver ou ouvir alguém que me inspira buscando similar fôlego para se expressar. A aparente vulnerabilidade intelectual humaniza o pensador, e isso me fascina um bocado. Enquanto entrevistador aprendi que o silêncio, os hiatos e as bufadas também são respostas.
A maturidade nos deixa mais chatos, mais céticos, menos convincentes, e, no mesmo paradoxo, mais sensíveis e abertos ao novo. A máxima do ‘quanto mais aprendo, menos sei’ deixa de ser clichê e passa a fazer mais sentido após três décadas divagando por esse plano.
“Tem certeza de tudo isso que escreveu aí em cima, Guifer?”
Não, infelizmente não tenho. Pq, depende…