Meados de 2001, ainda moleque e com uns 15 anos de idade, entrei pela primeira vez no Conjunto Nacional, um dos pontos turísticos da caótica São Paulo, localizado na Avenida paulista – maior centro financeiro do Brasil.
Na época, tudo o que eu desejava era começar a vida pra valer, conseguir um novo emprego e conquistar coisas legais no futuro para minha família e pra mim.
Recebi o convite de alguns amigos para fazer um “bico” como montador de P.As (posições de atendimento) em uma empresa de telemarketing, a Contax. Eu não sabia o que era P.A ou muito menos telemarketing, mas como seria uma forma de levantar uns trocados, topei na hora.
E lá foi eu com meus 58Kg de pele e osso para um trabalho braçal, difícil e técnico (mesmo eu não tendo braço ou a menor técnica que fosse). Não sabia nem apertar um parafuso, mas isso não era suficiente para tirar minha vontade de vencer e um dia, quem sabe, dar orgulho à minha mãe.
Conforme disse, esse “bico” era na Contax, do Conjunto Nacional.
Nunca havia entrado ali e lembro-me de ter ficado encantado com a arquitetura do prédio e, claro, com as mulheres que circulavam naquele recinto e na Avenida Paulista – esta que já é deslumbrante por si só.
Junto ao fascínio por estar em um lugar tão bacana, trazia na alma uma tímida vergonha em estar sujo e trabalhando em uma atividade nada ‘glamourosa’. Coisa de jovem babaca, né? Primeiro pq glamour é uma merda; segundo que vergonha em trabalhar não deve existir, ainda mais em se tratando de uma profissão tão digna quanto a de montador.
Mas, era notório as pessoas passando e olhando com cara de nojo aquele garoto sujo e aparentemente sem futuro. Vivi naquele dia de 2001 um fuzilamento que doía no fundo da alma e ainda dói, pois, ainda somos obrigados a conviver com a soberba das pessoas o tempo todo.
Bom, chegando ao Conjunto Nacional vi grandes empresas instaladas no prédio. Academia de primeiro mundo, além de belíssimas e saudáveis pessoas que circulavam pelo ambiente com aquela “cara de futuro garantido”.
Eu, no entanto, sabia que às 17H pegaria o trem com meus trocados e voltaria para Guaianases enfrentar a realidade que era estar à margem da sociedade, esquecido como outros milhares que vivem na periferia.
Quando chegamos ao Conjunto Nacional para aquele dia de trabalho subimos até a Contax – local em que montaria incontáveis P.As para os operadores de telemarketing.
Vi ali muitos jovens trabalhando no computador, de banho tomado e com cadernos em suas mesas, como se estivessem vindo da faculdade. Olhei aquilo e vislumbrei estar em um lugar daquele um dia, já que seria uma forma de sair do braçal e ficar no ‘conforto’ do telemarketing.
Eu carregava caixas, acessórios minúsculos e placas gigantes de madeira, e quando parava para esticar o corpo ou pegar um café, via que as pessoas cochichavam sobre aquele montador sujo que avistavam (no caso, eu). Todas com o olhar recheado de preconceito e meio que guardando suas bolsas pelo medo que talvez pudessem ter que eu as roubassem.
Mas tudo bem, né? Quando nascemos em condições adversas e em locais considerados perigosos vivenciamos o tempo todo olhares tortos e desinformados, e geralmente só não percebemos por estar no automático – acostumados ser tratado igual gado.
Os anos foram passando, realizei o ‘sonho’ de ser operador de telemarketing (na Atento), fui ajudante geral em algumas oportunidades, me formei jornalista, voltei a montar móveis na dificuldade, enchi laje, fui cobrador de lotação, enfim… tudo com muito orgulho e sem a menor vergonha de ser feliz (e se um dia precisar voltar para qualquer dessas funções, assim o farei de cabeça erguida).
Mas pq disse tudo isso?
Pq hoje, dia 02.12.2015, vou novamente dar uma passadinha no Conjunto Nacional, da Avenida Paulista. Desta vez, meu retorno será para lançar um livro em uma das principais livrarias da megalópole, a Cultura, aonde alguns dos maiores escritores lançam suas obras.
E humildemente estarei por lá, no cantinho, “vendendo” outra história de superação: a da minha filha.
Para muitos não é nada fora do normal e, talvez nem seja mesmo. Mas, para mim, é.
Tenho um histórico de lutas pesadas que não começaram ontem e isso significa muito, de verdade.
Vejo que não cheguei nem a metade do caminho, e sem qualquer hipocrisia, me vejo como um frango do jornalismo, um eterno aluno da vida e um mero aspirante que sonha em um dia ser alguém.
Mas também sinto-me vitorioso por algumas conquistas, principalmente por alcançar minhas metas pessoais sem pisar no próximo e por achar que também devemos aprender a valorizar nossos esforços vez ou outra, já que o hábito está em sempre nos automenosprezar, não é mesmo?
Bom… Contei essa história pq sei que alguém pode se identificar, e para chover no molhado com essa coisa do “sim, todos podemos!”.
Você, amigo, que está sendo vítima da sociedade hipócrita e preconceituosa e do governo lixo que nos rege, vai vencer se nunca desistir (acredite!). E não importa de onde você é, quem é você ou de onde você veio… tu pode!
Não sou ninguém para dar conselhos, mas, se pudesse compartilhar algo que aprendi, diria pra você nunca deixar de realizar um sonho por causa da negatividade das pessoas, sabe?
Não espere por ninguém quando o assunto for SEUS objetivos, até pq NINGUÉM terá o mesmo carinho por um projeto de vida teu do que você mesmo.
Não dependa de governo ou da boa vontade de alguém. Procure cercar-se de coisas positivas, da natureza, das pessoas que te amam e que emanam alegria e amor à sua vida.
Não viva em função daqueles que querem derrubar você. Esqueça, ore, e os perdoe. Amém.
É isso… Então, a partir das 18H30 escreverei mais um capítulo em minha simples trajetória e quero que estejam lá comigo, comemorando e saudando as coisas simples da vida em uma grande corrente de fraternidade.
Obrigado, Deus!