“Ah, se fosse meu filho…” é uma clássica frase que já foi pronunciada ou pensada por você em algum instante da vida, mas que certamente deixou seu vocabulário assim que sua cria veio ao mundo para mostrar que o buraco é muito mais embaixo do que você imaginava.
Quando nos tornamos genitores descobrimos que, além de nós, o filho ganhou surpreendentemente (e sem que autorizássemos) um bom número de “pais” espalhados pela vizinhança e/ou até mesmo no hall familiar.
É isso mesmo, mas… calma!
Esses “pais” geralmente não são os que carregam a responsabilidade legal em se importar com o término do leite ou das fraldas, ou menos ainda os que ficarão durante toda madrugada no pronto-socorro sempre que o pequeno ficar doente.
Afinal, esse papel é seu, meu amigo, e de uma forma bem à lá “pessoal e intransferível”.
No caso dessas pessoas, a função que exercem é muito mais “importante e difícil”, como, por exemplo:
– Apontar o que, na concepção delas, é certo ou errado para TEU filho;
– Falar qual roupa TEU filho deve ou não usar, se é de frio ou calor, se está provocativa ou recatada;
– Se pode tomar sol ou entrar na piscina;
– Se tal alimento engasga, e, com isso, o que deve ou não comer e beber;
– Se é certo ou não ofertar a chupeta (e em quais momentos);
– Qual música deve gostar;
– Qual time deve torcer;
– Quais superstições deve seguir (mesmo que vocês, pais, não acreditem nisso);
– Se deve ser batizado na católica ou apresentado na evangélica;
– Qual melhor momento para ir à escolinha;
– Qual remédio deve ou não ser oferecido – até pq, pessoas com características como essa, de palpitar na criação do filho dos outros, também são, na maioria das vezes, as “médicas” da família/vizinhança;
– Se você deve ou não pegar TEU filho no colo (sim, tem isso também, acredite!);
– Enfim, dizer o que deve ou não ser feito com TEU filho.
Mas olha, não precisa ficar encabulado, ok?
Tudo isso, segundo esses seres, é “pelo bem da criança”, até pq, você não sabe o que é bom para o TEU filho e, portanto, alguém precisa avisar você sobre situações óbvias, concorda? Vai que você “mata” o pequeno, não é mesmo?
Oh, cazzo. Me poupe!
Não venha instigar meu filho com preconceitos ou machismos (mesmo que inconscientemente) do tipo:
– Não pode brincar de boneca pq é coisa de menina ou carrinho pq é coisa de menino;
– Não pode dançar Funk pq é coisa de vagabunda, não pode ir aos shows de Rock pq é coisa do diabo ou não pode ouvir Rap pq é coisa de maloqueiro;
– A menina fingir que faz comidinha e o menino fingir que vai ao trabalho;
– E blá, blá, blá, blá, blá.
Também tem aqueles que disseminam ensinamentos ancestrais carregados de generalização, como “tal religião é de Deus e só tem gente do bem, e tal religião é do diabo e só tem gente do mal”, ou o estímulo (também leviano) à guerra civil quando influenciam nosso filho sobre julgamentos de valor, proferindo barbáries como “os de direita são isso e os de esquerda são aquilo”, sem o menor embasamento político, mas que acaba exercendo efeitos na cabeça da criança que toma aquilo como verdade por vir de um adulto – quando, na verdade, nem deveria estar imerso a este universo ainda.
Mas, e vocês, papais e mamães… pensam igual a pessoa que deu estes pitacos?
É de seu interesse que TEU filho cresça com pensamentos similares aos mencionados?
Lembre sempre de que tuuuuuuuudo isso quem decide somos nós, os pais, entendeu?
Não permita influências que possam ditar funções importantes no caráter de TEU filho e talvez colocá-lo no lado oposto ao que você entende como correto.
Corte pela raiz qualquer “conselho” que não considerar adequado ao TEU pequeno pq a criança realmente absorve.
E, olha, não se preocupe em fazer inimizades, pois as pessoas que se intrometem na criação do filho dos outros não estão nem um pouco preocupadas com isso, viu!? Até pq, se estivessem, respeitariam sua condição de ‘responsável legal’ da situação e recolheriam-se à própria insignificância.
Seu filho, a criação e o futuro dele devem ser mais importantes do que tudo para você, uma vez que, lá na frente, toda colheita da educação que tiver cairá sobre TEU colo. Se forem frutos bacanas, muita gente vai compartilhar e vangloriar como tendo coparticipação, porém, se for coisa ruim, a chance em se ver sozinho será grande.
Em suma: Faça a poda e regue sua mudinha conforme vocês, pais ou mães, entendem como adequado – e depois terão prazer em se responsabilizar pelos frutos que serão colhidos.
Já vosmecê, que é do time de ‘criadores de filhos dos outros’, me deixa lhe contar um segredo: agir dessa forma é mais do que inconveniente, entendeu? Acredite!
Por mais que algumas posturas não sejam intencionais, intromissões como as citadas acima passam do aspecto ‘ajuda’ para o aspecto ‘desrespeito’ muito rapidamente. É uma linha muito tênue que pode custar sua amizade com os pais da criança por transmitir a impressão de que aquele pequeno ser não tem ninguém por ele.
E, na boa? Nada tira mais um pai ou uma mãe de verdade do sério do que ter a sensação de que Fulano ou Ciclano está colocando em xeque sua capacidade de conduzir o melhor para seu herdeiro.
“Esses pais são moles demais”;
“Nossa, fulana está criando um monstro. Eu já avisei e depois quero só ver…”;
“Olha só as roupas que fulana deixa a filha dela usar. Depois pega uma barriga e não sabe o pq”…
Esses são apenas três exemplos de frases típicas na linguagem dos ‘criadores de filhos dos outros’.
Olha, amigão. Legal. Ótimos conselhos. Obrigado!
No entanto, quando falta comida na mesa do TEU filho essa pessoa coloca pra você? Ela acompanha a realidade dentro de tua casa para julgar se é o momento de emitir alguma opinião?
Dois exemplos de argumentação que pessoas assim geralmente utilizam para justificar a inconveniência também são tradicionais:
“Minha mãe me ensinou assim e deu certo” ou “em minha época…”
Ahhhh, o tal “em minha época”… isso é tão vintage, né, gente?
Além disso, o tempo passa rápido e hoje em dia as gerações são renovadas quase no tempo de uma Copa do Mundo, de quatro em quatro anos. Não dá para criar ninguém em 2019 baseado no que se aprendeu em 1950. E isso não é arrogância, é a constatação da realidade.
Quem aqui conhece algum ser que “deu certo” ou foi feliz baseado em experiência dos outros?
Aceito sugestões, mas acho difícil que apontem algum exemplo efetivo.
Ninguém aprende nada com a bagagem dos outros. O que talvez possa ser o mais assertivo é traçar uma orientação para que uma possível queda seja menos dolorosa e o levantar seja mais ágil. Apenas isso.
E mesmo assim convenhamos que a queda se faz necessária para o amadurecimento de qualquer ser humano, inclusive de nosso filho, então, não devemos ensinar os filhos a não caírem, e sim, ensiná-los a sempre baterem a poeira, levantar e seguirem firmes na luta.
Apesar de tudo isso, o mais espantoso é que esses “criadores de filhos dos outros”, que são loucos pelas nossas crias, também têm filhos.
Mas aí você olha o filho dessas pessoas e suas atitudes, e identifica que a criação condiz totalmente o contrário com o que é pregado por ele para a criação do TEU filho.
– Oras, mas se é tão fácil criar um filho e se você tem todos os ingredientes de felicidade – ou as melhores experiências a serem compartilhadas -, o que acontece dentro de sua própria casa? –
Ah, já sei, a resposta é muito simples: é muito mais fácil criar o filho dos outros, não é mesmo?
Os filhos devem ser o reflexo de um espelho que vem dos pais ou das pessoas responsáveis por sua criação, e esse sistema se modifica apenas na fase adulta do descendente, quando ele estará emancipado e terá asas suficientes para poder voar e tomar as decisões que julgar convenientes para seu futuro.
No entanto, quando bebê ou criança, a personalidade, as características, os valores, os erros ou os acertos, devem SIM estar exclusivamente sob os olhares dos pais ou responsáveis legais, que não devem, em nenhuma hipótese, terceirizar essa responsabilidade ou permitir que terceiros tomem pra si a criação do filho.
Embora tenhamos todos uma personalidade que vem desde a gestação – e que futuramente pode acarretar em problemas ou soluções à própria vida (independentemente do que lhe for ensinado), é certo que todos nascemos com o HD zerado. É como se fôssemos um computador novo que não tem programas instalados, então, nossos pais vão instalando esses programas e moldando a maquina da maneira como acharem melhor.
Se o computador é meu, eu instalo o que eu quiser e o que eu identificar como sendo melhor para a sobrevivência do aparelho. Não é o vizinho quem deve manusear meu computador, até pq eu não me intrometo no dele.
Em tempo… claro que existem aquelas pessoas que consideramos do time de ‘bem-vindos’ e que possuem certo aval para auxiliar nas instruções de nosso filho (até devido todo amor incondicional, ajuda real e energia positiva que emanam para nós e os pequenos). Estou falando dos avós, tios e padrinhos, por exemplo.
Porém, esse carinho e anuência não podem, em nenhum momento, serem confundidos com a própria criação em si.
Os outros brincam e fazem guti-guti; eu crio.
Meu filho, minhas regras!
__________________
Siga no Instagram: http://www.instagram.com/fernandoguifer
Siga no Twitter: http://www.twitter.com/fernandoguifer