(me dá Danoninho/Danoninho dá!) 💜
Sob a minha escolta ela corre para todos os lados atrás de uma bolinha toda envolta por borracha colorida.
Agacha, pega, corre, joga, sorri, e faz tudo de novo depois.
A cada arremesso, eu, o papai babão, grito um sonoro “goooollll!!!”, e corro para o abraço pegando ela no colo e enchendo a barriga de cosquinhas com a boca: “bbbbbrrrrrrr…”.
Tudo se repete inúmeras vezes. Ela é incansável, e glória a Deus por isso. Vive uma fase contagiantemente enérgica e só nos cabe tentar acompanhar e se fazer presente a cada momento.
Tratava-se da nossa ‘Copa das Copas’, a melhor que já existiu ali em nosso quadrado, saca? Estávamos fazendo a digestão da papinha, mas o organismo da bebê é tão ligeiro que cobrou rapidamente uma tradição que jamais poderá ser quebrada depois das principais refeições: a hora da sobremesa.
No meio da brincadeira, porém, minha Laís resolve deixar bolinha em paz. Ela também esquece o papai por uns segundos e corre sentido à barra da calça da mamãe, Fabi (que está na cozinha preparando o jantar), puxando-a e apontando com seu minúsculo dedinho indicador sentido a geladeira, enquanto seus olhinhos miram a reação da mamãe para ver se tem o poder de ganhá-la na ternura.
Imagino que na cabeça da Laís funcione assim: “Quando tenho fome, procuro a mamãe; quando quero brincar, procuro o papai.”.
Se isso é bom ou ruim para nossa relação de pais e filha – ou até mesmo para sua educação -, eu não sei. Mas somos aprendizes e vamos nos adaptando conforme os sinais vierem ao longo dos meses. Sem pressa e/ou cobranças desnecessárias.
Àquela altura minha esposa já estava a par de qual era o desejo da Laís, então, até de forma preventiva, tinha minutos antes colocado para descongelar uma das guloseimas preferidas da pequena: o Danoninho.
– A mamãe não pode agora pq está ocupada, meu amor. Tó. Leva lá para o papai! – ouço a Fabi se explicando.
Mal terminou de falar e olha só quem vem cambaleando com sua ‘cabeleira Biro-biro’ e a bundinha cheia de fraldas!? Isso, ela mesma, a Laís, que segura dois Danoninhos e uma colherinha. Eu, que estou sentado no sofá vendo jornal, apenas observo as intenções dela e qual solução terá para abocanhar aquela delícia.
Cerca de dois metros a minha frente ela resolve parar no corredor que faz ponte entre a sala e a cozinha, e começa olhar para suas duas mãozinhas.
Na esquerda, os Danoninhos; na direita, a colher.
É nítido que ela já entenda qual relação existe entre as duas coisas e, principalmente, sabe que ali existe uma ligação fenomenal cujo resultado é bem saboroso.
Apesar da expertise, a prematurinha não consegue descobrir como o conteúdo dos potinhos faz para chegar à colher – e então até sua boca -, afinal, eles ainda estão lacrados com a tampinha laminada e o desenhinho do morango que enche sua boca d’água.
Com sorriso tímido de crueldade, percebo de longe os primeiros sinais de irritação na Laís, que começa a ranhetar e bater o talher no copinho. Neste instante, só me resta puxá-la para dar um afago e dizer: “Veeeem, meu benzinho… o papai dá o Danoninho pra vc, vem…”
Os olhinhos dela esbugalham de felicidade e ela estica os dois bracinhos como se me oferece o produto e, assim que os pego, ela começa e me escalar até conseguir sentar no colinho mais coruja do bairro.
Neste momento, procuro a fraldinha de pano para improvisar o babador, mas nada de encontrá-lo, então, vai do jeito que der e, partiu se sujar, pq é dessas alegrias que a vida é feita. Sujeiras também servem para sublinhar ocasiões inesquecíveis.
Tiro o lacre do primeiro potinho vermelho e a cabecinha da pimpolha começa a se inclinar com pressa em direção ao produto. Afasto o iogurte e puxo ela de volta que, imediatamente esboça uma reivindicação, até que percebe o que está por vir…
“Iiiiioooowwwnnnnn… ssssshhhhhh…” reproduzo alto (e vergonhosamente) o som de um avião com a boca, enquanto olho para o alto e observo minha mão direita esticada fazendo zig-zags com uma colherinha de inox recheada de Danoninho.
– Olha o aviãozinhooooo… – indico a aproximação enquanto a mão desce à milhão.
O destino? Sim, sim… a boquinha da Laís que, por instantes, faz brilhantemente o papel de um aeroporto dos mais lindos e risonhos que existe, bem lilás e mimosinho.
Sempre que ligava o motorzinho da “aeronave”, a pequena esquecia o docinho por segundos e me observa com sorriso tão largo que as bochechinhas chegavam a saltar e ficar todinhas rosadas.
Ela sabe que está vivenciando um instante de felicidade, embora ainda não tenha noção de que esse é o nome que se dá aos momentos especiais.
E conforme a intensidade no barulhinho da colh… digo, do aviãozinho, ela rapidamente percebe a aproximação daquele que é um de seus alimentos preferidos (boba ela, né?).
O bocão sorridente da minha princesa recebe então belas cargas de Danoninho, enquanto eu passo as mãos sobre seus cabelinhos, afagos este que vêm seguidos de beijinhos carinhosos em seu “coquinho catolé” (como diria a vovó Maria).
Assim como aconteceu quando estávamos jogando a bolinha, o movimento se replica em algumas eufóricas parcelas. A gente se olha, sorri, e passo a colherzinha ao redor dos lábios para tirar o excesso da iguaria.
Ela emana gritinhos e mostra os dentinhos de serrinha quando finjo que vou comer seu Danoninho. Uma mistura de felicidade e medo do papai acabar com tudo. Um semblante confusamente delicado.
Pensa só que situação despretensiosa, mas inexplicavelmente memorável, não é mesmo? É isso, gente.
E entre um golinho e outro, a mamãe apareceu para bater essa foto para tentar eternizar mais uma noite de peraltices antes do berço.
Depois da foto, fui com ela até a cozinha para limpar a boca tingida de cor-de-rosa, lavei a petita (chupeta), coloquei-a nos braços e fui cantar para ela até que adormecesse…
Isso foi ontem… e hoje será assim de novo (se Deus quiser!).