Sabe aquele instante em que o popular dia ‘útil’ está prestes a findar-se? Pois bem…
…É quando (geralmente) somos acometidos por nós mesmos em um raro instante de reflexão no transporte coletivo lotado ou na solidão do carro próprio, pensando longe sobre o propósito de tudo o que foi feito nessa data para si e também para os outros que cruzaram nossa existência mesmo sem trocar um olhar ou uma palavra, e, claro, quais impactos reais essas atividades, decisões e/ou atitudes – positivas ou não – trarão para o próprio futuro de forma sustentável.
Ao dar às caras, um flagrante melancólico desse tipo, que permeia o trajeto entre o trabalho e aquele local (conhecido como casa) que você só aparece lá para jantar e dormir, vem acompanhado por uma sutileza capaz de nos desligar do mundo tão intensamente, que nem a música favorita torna-se capaz de ser ouvida, ela estando no talo dos fones de ouvido ou nos falantes que pulsam como coração adrenado na porta do motorista.
A canção começa, termina, e você, no interior de sua meditação, nem percebeu que ela de fato foi tocada, pois tudo o que vivenciaste nesses últimos segundos é o desligamento da emoção impertinente, esta que, mesmo altamente intransigente, passou finalmente sua bola para a razão (meeeega insistente!).
Então, num instante erroneamente raro, você tira um tempo para si e escora sua lateral da cabeça no vidro, mirando despercebidamente um olhar triste que, mesmo sem enxergar, foca na paisagem que sempre esteve lá, mas que nunca foi vista e/ou agraciada por ti com a alma.
Os pensamentos borbulham em torno do propósito e da importância que essas últimas horas tiveram em sua existência, e ele, o belíssimo cenário natural, se vai pela janela… talvez com a mesma velocidade e irrelevância com que sua própria vida tem passado aos teus olhos dia após dia sem que tenha reparado por um instante que seja.
De repente, vem à decepção consigo próprio.
Afinal, pq todos os dias fazemos algo que não sabemos o pq estamos fazendo?
Paramos, pensamos e nos damos conta de que novamente uma data no calendário foi tratada como número, numa equação matemática em que as contas simplesmente não batem.
Desta forma, mais uma vez o dia termina e tratei com protagonismo tudo o que deveria ter tido aspecto de coadjuvante em minha vida (e o vice-versa também é, infelizmente, maleficamente verídico).
Hoje o sol nasceu e se pôs como qualquer outro que tenha sido presente em nossa trajetória de vida nos últimos anos, ou seja, ele não apresentou o menor interesse em ofertar um brilho diferente que fosse capaz de nos fazer triplicar a fé na direção de que as coisas serão positivamente desiguais amanhã e depois.
Mas, afinal, de que forma estou voltando para casa hoje?
O que aprendi?
O que ensinei?
O que plantei?
O que anseio colher?
Era isso que eu queria para minha vida?
O que tenho me tornado?
Reconheço-me frente ao espelho?
O que preciso fazer de diferente?
Vamos lá… continuemos a reflexão na cama. Amanhã tem mais.