Quando o assunto é política ou nossas leis, não sou daqueles que bota o par de minhas judiadas mãos no fogo por direita ou esquerda – até por entender que isso já nem existe mais no país que vivo.
Pelo menos no Brasil, a tal da ideologia partidária é hoje uma utopia descarada que se compara, por exemplo, às transferências de atletas no mundo do futebol, sabe? Ou seja, o político/atleta segue no rumo do dinheiro e não hesita em trocar de partido/clube por qualquer quantia monetária que seja.
Dinheiro que, ao longo dos anos, veio moldando caráteres e chama-lo atualmente de ‘câncer ladrão de princípios’ não é nenhum absurdo.
Toda proposta que se distanciar de ego e poder, visando única e exclusivamente às melhorias desse país, tô dentro e pode contar comigo; qualquer situação que se apresente diferente disso, tô fora e me esqueça, por favor.
E até por manter uma posição um tanto radical (politicamente falando) não costumo me enfiar em protestos, greves e demais situações que, eventualmente, são descaradamente coproduzidas por um alguém que tem interesses particulares acima daqueles que a nação anseia para ser feliz e ter uma vida minimamente digna.
Fato é que grande parte das placas levantadas e das caras pintadas que rege o universo dos protestos são de cunho puramente político, atuando como verdadeiros cases de marketing e, óbvio, raramente – ou nunca – em favor do povo necessitado.
APESAR DE TUDO, EM 2013, LÁ ESTAVA EU…
Em Junho daquele ano me comovi com um movimento grandioso que tomou algumas das principais avenidas do Brasil para protestar contra uma corrupção que se tornou um câncer incurável e aterrorizante, este que vem nos matando na unha com desvios absurdos de verbas direcionadas aos setores básicos de sobrevivência, como segurança, saúde e educação, por exemplo.
Eu, como sendo um brasileiro preocupado em deixar um país melhor à minha filha de forma sustentável, me senti na obrigação de levantar a bunda do sofá para também erguer minha placa nas ruas para pedir justiça e, claro, dar minha singela contribuição àqueles que tinham um interesse em comum de mostrar aos políticos que já estávamos no limite.
Embasbacado, eu via pela TV uma manifestação legítima e inacreditavelmente contagiante. Nunca tinha presenciado um movimento daquele tamanho e que aparentemente não tinha sido orquestrado por partidos.
Era o ‘povo de verdade’ nas ruas e senti que havia chegado minha hora de ir à Avenida Paulista endossar o coro dos meus iguais por um Brasil melhor.
Compareci por imaginar que encontraria pessoas lutando pelo Brasil e seu verde e amarelo, e não por políticos ou partidos e seus azuis e vermelhos. Era a primeira vez que fazia aquilo e, provavelmente, a última – pq dificilmente aquela página em nosso livro de história iria a se duplicar no futuro.
QUANDO TOMEI CORAGEM, O PAÍS JÁ VIVIA SEU TERCEIRO DIA DE MANIFESTAÇÕES…
e o que encontrei na Avenida Paulista foi um incontável número de pessoas baderneiras, oportunistas, sem ideologia, tendo o porta-malas aberto e som do carro ligado no talo, dando risada, tomando cerveja, exibindo plaquinhas mais para humor do que para expandir seus anseios, enfim, um verdadeiro baile funk que parecia tudo, menos uma luta contra a corrupção.
Quando eu pensei que era impossível piorar, surgiram os baba-ovos de político e começaram a levantar suas bandeirinhas azuis e vermelhas de partido e, como uma tragédia já anunciada por eles mesmos, iniciaram uma briga generalizada que fez sobrar porrada para todo mundo.
Justiça seja feita: não era a polícia descendo a porrada, e sim, militantes brigando entre si, quebrando estabelecimentos, queimando carros e agredindo idosos. Tudo para defender seu partido (e não o Brasil).
Era um bando de marmanjo se estapeando por engravatados que nem sabiam de suas existências e que, inclusive, preferiram ficar no ar-condicionado de suas mansões enquanto essas crianças foram lá berrar “meu brinquedo é mais bonito que o seu!”, o meu é vermelho e o seu é azul, o meu é azul e o seu é vermelho, e blá, blá, blá, blá, blá….
Era o povo brigando com o povo; era o povo ironizando o próprio povo; era, enfim, o povo jogando no lixo uma oportunidade ímpar de fazer a diferença.
Naquele instante vi que estava diante de uma das maiores incoerências (para não dizer cagadas) da minha vida.
Não gosto de partido, não gosto de baile funk, e não sou bandido para apanhar da polícia.
De repente me vi no meio disso tudo e diante de um povo que aparentemente não sabia nem o que estava fazendo lá.
Fui lá para fazer um protesto legítimo, sem violência e da forma como a constituição me permite, mas rumei sentido à minha casa com pena do meu país, que ainda não tem muitas pessoas para brigar por ele sem interesses, e, pior ainda, segui com o sentimento de ser um bosta por ter feito parte daquilo.
O RESULTADO DISSO TUDO?
Não sei em sua cidade, mas, pelo menos aqui em São Paulo/SP o prefeito que estava em exercício na ocasião passou mel na boca de todo mundo por um tempo, esperou a galera viajar durante as festas do final de ano, e aumentou a tarifa não em R$ 0,20, mas em R$ 0,50.
No ano seguinte ele ainda meteu uma isenção aos estudantes por não ser idiota e por saber que eles é quem poderiam lhes causar problema, já que os estudantes têm o poder de pensar (e o ‘pensar’ é a única arma que pode mudar o mundo e colocar esses bandidos corruptos em xeque-mate).
NÃO VOU DESISTIR DO BRASIL…
e continuarei fazendo minha parte como cidadão trabalhador e pai de família. Mas confesso não ter muitas perspectivas para o meu país, essencialmente devido à conduta das pessoas que habitam nesse solo.
(e agora não estou falando dos políticos, e sim, de seus espelhos: a população).
Este meu texto é mais um desabafo pessoal que dissertei para expressar meu arrependimento, deixa-lo registrado, e para reconhecer um erro que hoje me envergonho demais.
Ter feito parte daquelas manifestações, em Junho de 213, serviram apenas para manchar minha integridade, embora eu creia que mudar de opinião e se arrepender de um equívoco seja uma dádiva do amadurecimento.
Errei por tentar e por acreditar, mas errei com a melhor das intenções.
Brasil, é isso… eu tentei. Me perdoa por ter fracassado na tentativa frustrada de te melhorar.
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