Laís é o xodó da vizinhança, da padaria, da doceria, do mercadinho, da pracinha…
Entre as poucas palavrinhas que balbucia no alto de seus cinco aninhos e meio, é: “oi” e “bom dia”.
Não importa quem seja ou aonde esteja, ela distribui seu amor e simpatia para o bairro todo. Dos mais jovens aos mais velhos, dos aparentemente bem-sucedidos financeiramente aos moradores em situação de rua. Ninguém escapa do ‘joínha’ que ela acabou de aprender e que deseja dividir com o mundo.
A única coisa que ela anseia das pessoas é o “bom dia” e o “oi” de volta.
E quando isso acontece, ou seja, alguém a cumprimenta (mesmo que com o olhar), ela desgarra da minha mão e corre em direção a pessoa para receber um afaguinho e mostrar suas unhinhas que a titia pintou. É como se ela tivesse se sentido aceita ali. Para ela, é uma nova e especial amizade que acabou de fazer na rua.
Mas tem algo que me dói profundamente, sabe?…
Muitas pessoas a ignoram completamente.
E, até devido sua condição especial, ela fica extremamente desesperada, agitada e com sentimento de profundo desprezo. Me olha, segura meu rosto e chora sentida, como se buscasse em mim alguma resposta do pq aquela pessoa não ter olhado para ela e retribuído seu cumprimento e carinho com um simples “oi” ou “bom dia” – mesmo a tendo visto.
Sempre que presencio essa amargura do próximo, me pergunto com o coração partido: “Afinal de contas, o que está havendo com o ser humano?”. Pq negar um “bom dia”, que é a única coisa que ainda nos resta enquanto sociedade cortês e amável? Pq negar isso a uma criança especial?
Há uma dor em olhar e ver que a humanidade não se preparou para receber, respeitar, integrar e incluir. Há uma dor sobre a invisibilidade com que ela será tratada pelo mundo enquanto estiver por aqui. Há uma dor pela falta de perspectiva em ver o amor vencendo.
Dias desses estive com ela na pracinha perto de casa, dessas de bairro, que têm alguns brinquedos, como balança, gangorra, escorregador, gaiola…
Sempre que vamos está vazia, então brincamos um pouco nós dois e depois vamos embora. Ela até que se diverte, mas por eu não ser criança, é diferente, né? A diversão não é completa.
Nesse dia em específico, uma mãe estava lá com duas crianças e, ao avistar aquelas meninas no escorrega, Laís me largou e saiu correndo para brincar com elas. Prontamente, as duas correram para os braços da mãe mostrando receio com a aproximação da Laís que, embora meio espalhafatosa, é sempre cuidadosa e nunca coloca as mãos em ninguém sem que eu autorize. Por não saber abraçar, ela só rodeia as crianças sorrindo enquanto espera um sinal positivo de “vem brincar com a gente”.
Quando as crianças saíram, minha Laís pensou que aquilo já era parte da brincadeira e foi até elas correndo. A mãe das pequenas então perguntou: “Quer brincar?”.
Laís encheu o rosto de alegria e respondeu timidamente: “tá” (é assim que ela se comunica quando quer dizer “sim”).
Neste momento, sem qualquer explicação, a mãe pegou as duas crianças, saiu bruscamente de perto como se a Laís fosse transmitir alguma doença para suas filhas e a deixou ali, sozinha.
Com os olhos marejados apertadinhos ela me olhou e me deu os bracinhos. Peguei-a no colo e fomos para outro lugar tentar brincar…
Eu, claro, despedaçado com a maldade que acabara de presenciar com ela, uma criança, que é a pessoa mais importante da minha vida, além de tão amorosa e boazinha com todos.
Olha, meu coração já chorou muito nesses cinco anos e meio, mas, pela primeira vez, confesso ter sentido algo ainda mais devastador aqui dentro, pois vi que a Laís entendeu que houve um desprezo com ela.
Antes, ela não tinha compreensão acerca do preconceito e somente eu sofria calado; agora, porém, o discernimento dela já permite que algumas situações tenham mais clareza em seu íntimo e, o sofrimento, que eu desejava ser apenas meu, passou a ser compartilhado.
E pensar nela sendo alvo da mesquinhez humana e já consciente disso, é algo que me destrói e me traz uma sensação de impotência e perca de fé terrível…
Qual desculpa será que aquela mãe deu às filhas por tê-las impedido de brincar com a Laís?
Por isso, peço a todos vocês, pais e mães: ensinem seus filhos a amarem ao próximo. Nenhuma criança nasce preconceituosa. Plante amor no coração dos pequenos e os ensine a terem respeito pelos considerados “diferentes”.
São os filhos de vocês quem transformarão o mundo. Não permita que seu ódio gratuito se perpetue, já que, mesmo que você o tenha, lá no fundo sabe que não é o certo.
Use a empatia e amenize um pouco nossa dor e luta diária enquanto pais de crianças especiais. A dor de pais que não sabem o dia de amanhã. A dor de pais que acordam e dormem com algumas incertezas martelando a alma.
Amenizem um pouco nossa dor, por favor… não é fácil, acredite. É o maior amor do mundo, mas fácil não é.
E ter o abraço das pessoas desconhecidas com um simples olhar ou sorriso com ar de “vai ficar tudo bem” é tudo o que precisamos às vezes.
Não ignore ou destrate minha filha… ela não vai machucar ninguém… ela só quer brincar. ❤
Chorei!!!
Minha filha usou traqueo, 1 ano e meio, as pessoas olham como fossem ser de outro planeta.
Ensino minha filha que não existe diferença entre crianças…criança é criança… Criança tem que brincar…. E se alguém tem alguma limitação, pra brincadeira, adaptamos…
Criança é criança…simples assim…
Cara estou chorando aqui com o que aconteceu a vcs, tenho uma menina de 3 anos ela não é especial, ou melhor ela é muito especial para mim, mas não tem nenhum probleminha sabe. mas me coloquei em seu lugar e chorei imaginando a sena. Tento ensinar todos os dias a minha princesa que devemos amar as pessoas não importando as diferenças entre elas. E ela esta aprendendo da melhor forma que o amor ao próximo é e sempre será o caminho.