Na última sexta-feira, novamente presenciei os seguranças do Metrô de SP espancando um vendedor ambulante e furtando dele toda sua mercadoria.
Sim, pq, quando pegamos algo de alguém sem o consentimento do próprio – e sem estar à mão armada – configura-se furto.
Passei pelo tumulto refletindo sobre o que deve significar a um homem olhar para a mesa de sua família e não ter como oferecer nada durante um jantar ou café da manhã. Como deve ser o filho pequeno olhar em seu olho para pedir um pão e você precisar dizer que ele não vai comer naquele dia. Como deve ser olhar quem se ama doente, acamado, e não ter o trocado do remédio para acabar com aquelas dores?
Com a imagem do TRABALHADOR ambulante na cabeça, tentei imaginar qual deve ser o sentimento em (mesmo diante dessa dificuldade toda) conseguir uns trocos emprestados com um conhecido – depois de se humilhar bastante – para comprar um mísero pacote de salgadinhos, colocá-lo debaixo do braço, sair para vender na intenção de voltar para casa com, ao menos, o Miojo das crianças, e não só ter a mercadoria furtada, mas também ser espancado por vários seguranças, eles que também são outros trabalhadores e que provavelmente passam por dificuldade semelhante no dia a dia.
Olha só que loucura. Humanos contra humanos. Humanos da mesma classe, vítimas de um mesmo sistema e com dificuldade similares, se digladiando e atrasando o lado um do outro. O cenário perfeito da manipulação.
Perceberam no que a gente se tornou? Marionetes que exterminam a própria espécie para alimentar seus capatazes que ficam rindo lá do ar-condicionado.
Óbvio que essa cadeia de acontecimentos é uma espécie de estopim para que transcendamos o modo ‘desemprego’ e passemos a figurar no modo ‘violência’. Já que, se não conseguir trabalho, esse pai de família, que não aguenta mais apanhar, ver seu filho dormir com fome e/ou chorar de dor, vai surtar e partir para a violência também. A mesma de que ele foi vítima.
A diferença é que ele será visto pela sociedade como bandido, enquanto o outro, segurança, que furtou sua mercadoria e o espancou no Metrô, continuará sendo aplaudido por ter feito seu “papel”.
ATENÇÃO, METRÔ E CPTM! QUERO FAZER UMA SUGESTÃO!
De tão óbvia que é, tenho certeza de que essa proposta já tenha sido feita. Mas vale o reforço.
Por qual motivo vocês ainda não criaram um plano de comércio legalizado nas estações e vagões, como forma de contribuir com a geração de empregos e, simultaneamente, com o fim da violência nas estações? Qual a dificuldade, uma vez que são instituições tão bilionárias? Incompetência ou somente falta de amor e empatia mesmo?
Desenvolvam um mecanismo de cadastramento de ambulantes VS tipo de mercadoria que pretendem vender, limitem uma cota por vagão, estação e linha, cobrem uma taxa por venda ou mensalidade pelo espaço, distribua uniformes e pronto.
Os passageiros se sentirão mais seguros e menos invadidos (já que esse é o medo de vocês), não haverá mais truculência de seguranças na fuça da população – que pagou caro para ver serviço de qualidade e não violência -, e ainda vão lucrar com o que recolherem por trabalhador ambulante.
Se vocês (Metrô e CPTM) não forem capaz de implantar um projeto desse tipo por qualquer motivo que seja, sugiro que entreguem a concessão, fechem o negócio e peçam desculpas ao usuário, pois arregar para algo tão simples e transformador é um atestado de incompetência dos brabos.
***Clique aqui para ler o artigo complementar, em que abordo o desemprego: http://bit.ly/2W82mlj