Uma das fraquezas mais prejudiciais à sociedade – desde que o mundo é mundo – é o machismo. Além de cometer injustiças em todos os campos, trata-se de uma característica do homem que melhor representa o que há de mais execrável na espécie humana, pois violenta, abusa, assedia, amputa, cala e mata.
O pensamento autoritário, o ar de superioridade, o retrógrado espírito de “varão”, a agressividade como mãe da covardia, a força física como substituto da Inteligência e da tolerância, enfim…
Por isso, acredito que o próprio homem se posicionar firmemente na quebra e revisão alguns paradigmas e conceitos, é o único caminho possível para que tenhamos um futuro mais igualitário, justo e tolerante em todos os aspectos no que diz respeito a gênero.
Dia desses convidei dois amigos para batermos um papo sobre ‘machismo’ em uma Live. Duas pessoas que têm minha admiração, que combatem comportamentos deploráveis do sexo masculino, que também discursam em prol da igualdade de gênero e, por fim, que pensam iguais a mim neste sentido de respeito absoluto à mulher e defesa de direitos e oportunidades equiparadas.
Para minha surpresa, ambos recusaram o convite com argumento de que o tema não é para nosso lugar de fala enquanto homens, e que somente mulheres têm direito em se posicionar a respeito, por serem as principais vítimas do que conhecemos por “macho escroto”.
Embora respeite a colocação deles, discordo.
Acredito que a ideia em reunir homens para abordar o quão nocivo pode ser o machismo e suas atitudes escrotas, é justamente para nos levar a um autofeedback mesmo, sabe? Proporcionar autorreflexões e analisar de forma mais profunda os erros históricos de nossa espécie enquanto homem.
Machismo debatido por homens pode sim ter um efeito extremamente positivo, se analisarmos que é o próprio homem permitindo-se reeducar após refletir e compreender que há uma urgência em se moldar.
O lugar de fala do homem em torno dessa discussão é indispensável não para que ele se proteja ou tente justificar o injustificável. Mas imprescindível no sentido de expor e reconhecer suas fraquezas, suas condutas abomináveis, seus espíritos autoritários, suas covardias escondidas por detrás da força física, suas inúteis virilidades sem qualquer benefício ou propósito e, consequentemente, suas possibilidades de mudança que, acredito, só virão através de muitas reflexões e reconhecimento dos próprios equívocos, o que, na maioria das vezes, só acontece quando confrontados por outros homens.
[ Veja bem: não estou dizendo que o machismo não possa ser debatido por mulheres. Muito, mas muito ao contrário. Minha ponderação é para apontar que sim, trata-se de um tema cujo lugar de fala é das mulheres, mas que não apenas, pois o vejo como um lugar de fala indispensável também dos homens. Opostamente ao feminismo, em que o homem realmente não deve sequer abrir a boca, primeiro por não haver homem feminista (e sim, no máximo, pró-feminismo), e, segundo, pelo fato de o feminismo não prejudicar o homem de forma alguma ]
Vale frisar que o exercício e a vigilância do homem em se melhorar e amadurecer precisam ser diários para que componhamos um futuro com sujeitos melhores do que somos ou fomos.
Há também o fato de que, por ser um traço milenar, até indivíduos que porventura sejam contrários machismo possam acabar reproduzindo-o de forma inconsciente.
Caraterística estrutural e inerente ao próprio gênero que não se transforma do dia para a noite, o que anseia ainda mais por um compromisso sério de desconstrução diário para que esse trabalho de formiga impacte positivamente no cotidiano de nossos netos e suas respectivas relações interpessoais em algumas décadas.
A mulher é, indiscutivelmente, a maior vítima machismo. No entanto, é o homem quem pratica e por conseguinte deve se desconstruir.
Não erradicaremos o machismo somente com as mulheres conversando entre si.
Quando a fala vem somente das mulheres, ela pode até fazer efeito, mas numa escala menor, já que a mulher lutar contra o machismo pode ser considerado algo óbvio, ao contrário do homem que, quando resolve levantar essa bandeira, tem maior possibilidade em fazer outros homens pararem para ouvir, meditar e reverberar.
Não creio, portanto, que o tema ‘machismo’ possa ser combatido tendo, em uma roda de conversa, apenas a fala da mulher considerada e o homem participando como mero ouvinte coadjuvante. Acredito que desta forma os objetivos em torno do tema não serão plenamente atingidos na hora de alcançar a desconstrução masculina esperada.
Acho que é isso. Fiquem à vontade para deixarem suas opiniões a respeito, pois estou ansioso por continuar minha evolução (e quiçá desconstrução) também de pensamentos e crenças.
Por fim, continuo buscando homens dispostos em falar publicamente a respeito, sem medo de expor suas atitudes, medos, sensibilidades e desejo em serem pessoas melhores para si. Seguimos lutando por mundo cujo machismo esteja erradicado!