Acabei de passar por uma mulher que estava sentada no chão da estação de Metrô com sua filha pequena, esta que aparentava ter uns três aninhos.
Enquanto a pequena, com olhar triste, brincava, sem amigos, com algum objeto improvisado, a mulher mantinha o olhar fixo e avermelhado pra ‘lugar nenhum’ enquanto lágrimas corriam velozmente por seu rosto.
Ela não pedia absolutamente nada no momento em que passei. Apenas chorava enquanto sua filha tentava ser criança para recuperar a fração de uma infância que parecia estar sendo roubada todo dia um bocadinho.
Jamais saberei o que se passa ali naquela vida, naquele coração, naquela família aparentemente de duas pessoas. Mas o olhar desesperado era sim o de uma mãe que, aliás, sequer emitia qualquer som em seu choro, pq era uma tristeza engasgada, profunda, de quem perdeu suas esperanças sobre algo ou, quiçá, a vida.
Nunca vou saber se a filha dela tomou café da manhã, se as duas estão em situação de rua, se deixou sua casa por ser vítima de violência doméstica, se ela tem uma enfermidade e não sabe com quem deixar a pequena no caso de o pior acontecer, enfim…
Me senti mal pela cena e muito mais por ter passado direto, sem tentar propor alguma ajuda, não sei… a gente fica paralisado também, sabe? De mãos atadas, com medo de abordar e ser invasivo. Nunca sei como reagir quando me deparo com situações assim, que me tiram do eixo. Talvez eu tenha errado, talvez eu deveria ter dado meia volta pra fazer minha parte enquanto ser humano… difícil… estou reflexivo sobre minha conduta também…
É maluco pensar que a sociedade está acostumada a tratar pessoas em situação de vulnerabilidade como “lixos invisíveis que estão atravancando a passagem”, e não irmãos-humanos que estão ali por culpa de terceiros que não sabem o que é necessidade de fato, uma vez que nós, contribuintes, lhe oferecemos toda mordomia que têm e desfrutam.
Se tem uma parada que é, constitucionalmente, um direito básico de qualquer cidadão, isto é: dignidade. Assim como moradia, saúde, alimentação, emprego… no entanto, tudo é subtraído dos menos favorecidos ‘na mão grande’ por sentimentos como ganância, ego e poder, que claro, desembocam na corrupção – principal responsável por assassinar sonhos.
Tão clichê esse parágrafo aí de cima, né? Pois é…
A gente se acostumou tanto a tratar o sofrimento do outro com desdém que, dizer o óbvio, passou a ser clichê e já não faz sequer uma cócega em nossos brios.
Social vem de sociedade. Problemas sociais e desigualdade social, tudo tem origem na sociedade. E quem é a sociedade, hein!?
Sim, sim… somos nós. É também o político, mas também somos nós, caros, “cidadãos de bem”.
Por isso, quando nos deparamos com uma mãe chorando no chão do Metrô com sua filha pequena, isso precisa de alguma forma mexer com nossas estruturas.
Mesmo que não tenhamos forças para ofertar um mísero apoio, que seja ao menos para nos fazer sair dali pensativos, inquietos, inconformados, questionando se deveria ser daquele jeito, o pq não deveria, e quais são os verdadeiros responsáveis por aquele choro.
O dia em que essas coisas não mexerem mais com nosso ‘eu’ e não “estragarem” nosso dia, é sinal de que deixamos de sermos humanos há muito tempo. Aí é o momento de parar e tentar refazer a rota – pq, definitivamente, o caminho de uma vitória coletiva não é esse.
E não se esqueça: faça com que a urna eletrônica seja uma grande aliada de seus valores e crenças por dias melhores e uma sociedade mais justa e igualitária.
Imagem: Graphicwithart / Getty Images