[ É legal a ideia do papo livre no estilo “mesa de bar”, mas é preciso vigiar e se atentar ao excesso, já que o despojado e o desleixo são coirmãos e moram numa mesma linha mega tênue ]
Nada contra esses “podcasts” em vídeo que diariamente se multiplicam e arrastam multidões pelo Youtube.
Entre views e patrocínios, a rapaziada que (tem tempo e) produz com uma infra mais profissional, fatura muito com o formato e, talvez, por saberem que não é algo que deva ter absurda audiência no futuro conforme tem hoje (o que normal, pq sucesso tem altos e baixos mesmo), optam pela produção de programas quase que diários e muito, muito longos, com duração que vai de duas até quatro horas geralmente.
Como disse, nada contra essa gana por colocar programa no ar todo dia para levantar bons dinheiros, já que todo mundo tem direito em criar estratégias visando garantir os pés-de-meia. Legítimo, e ok.
O problema que vejo está no conteúdo mesmo, saca? Mais precisamente na pré-produção (ou, melhor dizendo, na infeliz ausência dela).
Sem generalizar, tem sido normal conectar alguns desses “podcasts” grandes e sentir constrangimento pela falta de profissionalismo de seus hosts. Aparentemente, são entrevistadores que não fazem a menor questão de pesquisar uma vírgula sobre a figura que parou sua vida por algumas horas para se dedicar em ir lá trocar uma ideia que pudesse ser produtiva a todos.
O despreparo nítido é quase desesperador a quem assiste, pq, embora fluídos, os papos se tornam ‘mais do mesmo’ a quem fala e a quem assiste, e, além de expor o sentimento de que muita informação importante se perdeu pelo caminho, não raras vezes rola um climão pelo excesso de gafes bizarras e evitáveis.
Tudo por preguiça, tudo pelo ‘passo maior do que a perna’, tudo pq o dinheiro vem na frente do que de fato importa: a relevância do conteúdo.
É legal a ideia do papo livre no estilo “mesa de bar”, mas é preciso vigiar e se atentar ao excesso, já que o despojado e o desleixo são coirmãos e moram numa linha mega tênue.
Como entrevistador, o mínimo que preciso fazer é uma pesquisa sobre o convidado. Não importa quem seja e qual papel ocupa no mundo, é o mínimo. Não dá para encarar todas as pessoas que se sentam no outro lado da mesa como sendo iguais, pq não são. E, mesmo que a pauta se assemelhe, cada indivíduo é um indivíduo, com vivências e sonhos distintos, de segmentos e classes diferentes, e com dores e necessidades específicas.
Ter a pauta na ponta da língua fará o convidado anônimo se sentir importante logo de cara e, portanto, você já entrará em campo com o jogo ganho; se for famoso, o estudo servirá como base para que se elabore perguntas nunca feitas e, com isso, uma experiência diferente será proporcionada ao artista – já habituado a tantas entrevistas clichês.
Em ambos os casos, seu programa e você, entrevistador, vão se destacar positivamente na multidão, já que o convidado tende a se lembrar positivamente – e pra sempre – de você, e o leitor, que será presenteado com boas e inéditas declarações que serão extraídas, também guardará o momento no lado esquerdo do peito.
– E, se não tenho tempo para estudar, Guifer?
Aí, amigo, DasDuaZuma: ou não faz o programa e aguarda sua vida entrar nos eixos ao ponto que se organize para ter tempo, ou recorra à ajuda de um produtor para fazer esse corre e lhe brifar antes da conversa.
Não tem coisa pior do que sentir que o entrevistador mal sabe quem você é ou ceder uma entrevista para responder as mesmas perguntas sempre. O bom entrevistador é o que extrai o que ninguém extraiu ou que propõe aquilo que foi pouco explorado. E isso independe se é ou não jornalista, pq estamos falando de algo que é acessível a praticamente todos os que tiram um programa de entrevistas do papel: o tal estudar para se informar.
Por fim, vida longa a todos os tipos de novos conteúdos e mídias, incluindo podcasts e videocasts. No entanto, é imprescindível que a busca pela excelência e a uma entrega mais qualificada seja prioridade a quem produz (até para que a carreira se estenda e solidifique).
A quem ouve/assiste, mantenha o senso crítico de antena ligada pq ele será fundamental no momento que você precisar discernir o bom do mau profissional e assim consumir conteúdos que de fato lhe agreguem valor.