[ quando a criança está assustada e vive seu momento de dor e medo, não é pensão que vai substituir a figura de segurança, o colo, o pegar na mão e o amor incondicional do pai ]
Se existe algo que faz a justiça realmente funcionar no Brasil, isto é o não pagamento de pensão alimentícia, né? Sequer importa quem você seja na fila do pão: não pagou? É cana, meu chapa!
Mas apenas levar o homem à prisão por algumas horas até que ele quite suas parcelas em atraso é pouco. Afinal, depois de pagar ele segue a vida normalmente como quem acredita que, a partir daquele pix, seu filho já não necessite mais de cuidado, carinho, orientação, presença, enfim…
O cara sabe que o menor continua por aí, mas não considera a paternidade relevante o suficiente para impedí-lo de viver sua vidinha-irresponsável-de-macho-imaturo-que-não-é-capaz-nem-de-assumir-COMO-HOMEM-os-cuidados-de-uma-criança-pra-valer.
Por isso, sabendo que o filho de nenhum “homem” deixa de existir simplesmente pq ele depositou uma mixaria na conta da mãe da criança ou da justiça, trago sugestões simples com objetivo em fomentar, por livre e espontânea vontade ou pressão (a escolha é livre e varia de acordo com o caráter), o envolvimento paterno na vida dos filhos.
Vamos a elas:
– É preciso reparar os danos emocionais – e até físicos – que a falta do pai traz ao ser humano em médio-longo prazo desde a infância. Em vista disso, sou favorável que o cidadão arque com o tratamento psicológico do filho durante o tempo que o profissonal de saúde julgar necessário, além, é claro, de segurar integralmente as pontas do plano de saúde até que a maioridade do filho chegue;
– Entendo ainda que, embora um item mais complexo e desafiador, a Lei deva, de alguma forma, impor a presença do pai na vida do filho em pelo menos 50% do tempo. Ou seja, dividir igualmente as responsabilidades com a mãe, permitindo que a mulher faça o que achar melhor com seus 50% de tempo livre, já que ela não é obrigada no cuidado em 100% – uma vez que não fez a criança sozinha.
Traduzindo: é dever do pai ser presente, e isso precisa ser inegociável. Se maltratar a criança ou não apresentar cuidados minimamente aceitáveis em termos de afeto e estrutura, responde criminalmente como sendo um (ir)responsável legal que não supriu os direitos básicos garantidos por lei a qualquer menor.
Entenda: não me refiro a pais que já têm acordo legal com a mãe e a justiça para guardas/visitas periódicas que, mesmo em menor frequência, correspondem às necessidades do pequeno. Refiro-me aos que simplesmente abandonam, “esquecem” que têm filho, que moram na esquina e fingem não conhecer o herdeiro atravessando a rua quando encontra, que mudam de cidade ou de país como se não estivessem deixando nada para trás, enfim… (A)ONDE VOCÊ ESTAVA QUANDO SEU FILHO FICOU DOENTE? E (A)ONDE VOCÊ DEVERIA ESTAR?
Tem que ser criminalizado, sim!;
– E, por último, mas não menos importante, sugiro ao Poder Público que disponibilize, com vagas abundantes e acessíveis, palestras, dinâmicas e rodas de conversas para conscientização em torno da paternidade ativa, no sentido de que esses pais, digamos, mais relapsos, possam compreender a importância que eles têm no desenvolvimento e formação de caráter e personalidade dos filhos, e com isso entreguem pessoas melhores ao futuro da sociedade. Neste caso, sendo exigido do pai um mínimo de frequência nas ações propostas.
Aí, se o homem não cumprir com esses termos, pouco importa se paga ou não a pensão, seguirá respondendo criminalmente, pq filho não é boleto. Filho é uma vida que, se não tiver base familiar sólida na infância, impactará negativamente o desenvolvimento da comunidade ao redor no futuro.
É preciso educar o homem com relação à responsabilidade paterna, e isso se faz com informação e com leis.
Temos perpetuado e romantizado o abandono ao invés de entendê-lo e combatê-lo. Entra ano e sai ano, não vemos iniciativas da justiça ou ações do Governo, da imprensa ou de ONGs que atuem para efetivamente auxiliarem na diminuição dos casos de mãe solo largada à própria sorte com o filho nos braços – enquanto o bonitão fica vagando por aí postando foto de balada na rede social.
Óbvio que o buraco do abandono paterno é muito mais embaixo, e inclusive discorro acerca de outras possibilidades que envolvem essa epidemia em minha recente palestra no TEDx (https://youtu.be/a-HrUuujtb0).
Mas no que tange a parte do homem/pai no processo, vejo que é preciso ser mais firme do que tem sido. Ter filho não pode ser encarado com uma trivial brincadeira, um descuido, um estouro de preservativo e dane-se. O assunto pede seriedade no debate.