Na ânsia de imputar determinadas crenças a quem chegou nesse mundo há pouco tempo, muitos pais perpetuam falas estruturais religiosas que mais atrapalham do que ajudam quando a pauta é explicar sobre “o intocável Ser invisível que sabe até quando e qual folhinha cairá da árvore ou quantos fios de cabelo temos na cabeça”.
Dizeres como “Deus não se agrada (ou Deus se agrada)”, “não faça isso pq Jesus chora” e “Deus vai te castigar”, não é o jeito mais amigável de apresentar, a uma criança que ainda não tem aptidão para interpretar ou lidar com alguns sentimentos, aquele que você considera o Indivíduo mais bondoso do universo.
Se não houver uma medição nas palavras e formas como são ditas, a relação de afeto e confiança que se pretende criar entre Deus/Jesus e os filhos pode ter efeito contrário. Ao invés de respeito, o pavor; ao invés da libertação, a opressão.
O próprio termo ‘temente a Deus’ não deve ser dito com entonação ou contexto que lhe dê o sentido de medo, de susto, de temer.
Criar no imaginário dos pequenos uma figura punitiva do Altíssimo é um equívoco e pode gerar frutrações e criar amarras para toda vida, uma vez que, o receio em ser vigiado 24 por 48 horas e/ou ter uma conta negativa a ser paga pós-morte, ou até mesmo o pânico em ter seus pecados expostos em uma projeção no céu para toda humanidade assistir quando “Jesus voltar”, traz às crianças uma sensação de terrorismo que poderá lhes causar impactos psicológicos negativos em médio/longo prazo – já que não há como o ser humano se esquivar do erro (inclusive tb pela vontade do próprio Deus).
É cultural dos adultos gerar traumas nas crianças com estórias que os amedronta, como monstros e bichos-papões, terceirizado suas incompetências (em criar na base de um diálogo) para Deuses e Diabos. Criar dá trabalho e a preguiça faz com seja usual o abuso desses artifícios psicológicos por parte dos pais.
Aliás, até o famoso “Jesus está voltando” é, há décadas, dito em tom de ameaça e não de algo positivo e de salvação conforme se promete.
O propósito de Jesus, que muitos ainda não compreenderam (essencialmente parte majoritária de seus devotos), é: amar ao próximo como a si mesmo. E só. Não há segredo e nem muito o que inventar a partir disso.
Fomentar o respeito e o amor, e exercitar empatia e altruísmo, são as únicas ferramentas que nos mantém em comunhão com os valores do Divino. O resto é bijuteria e perfumaria que sequer o interessa.
E, se porventura você agir contrário ao que Ele gostaria, não vai puní-lo, castigá-lo ou, menos ainda, chorar só pq o Alecrim Dourado do humano o desagradou. Além de ter mais o que fazer, Ele não é desses que age com vingança. Isso é coisa de “humanos”. a vida que vai tratar de mandar a conta, não Deus.
Bom, e nem vamos entrar no mérito de que agora a prática é atrelar Jesus/Deus às armas, à tortura e à violência, vendendo-se a ideia de que ele é favorável a essas ideologias horrendas de que sempre se mostrou contrário, né? (não é o Guifer quem diz, são as Escrituras Sagradas).
Por fim, numa vasta gama de clichês que fazem mal sem querer (querendo), a que melhor representa a verdade é: “Deus é bom o tempo todo/O tempo todo Deus é bom”.
Pq, sim… Deus é de fato somente amor – e neste caso não há espaço para poréns ou todavias.
Criança: Deus NÃO mata, Deus NÃO coloca doença sobre ninguém, Deus NÃO é mau, Deus NÃO castiga. Tudo isso é fruto da imaginação fértil dos adultos. Vai lá ser criança de boa! ❤