Dia desses eu brincava com minha filha, quando ela pediu toda empolgada: “papai, quero cavalinho…”.
A ideia da Laís não era ficar igual tortuguita-mochilinha em minhas costas. A pequena se referiu ao cavalinho clássico, que era colocar suas pernas sobre meus ombros enquanto eu segurava seus braços e saíamos por aí sem destino, sabe?
Dei uma rápida escaneada em nós dois e percebi que, por ela estar enorme, essa brincadeira já não era mais possível. Tive que declinar o pedido enquanto fui rapidamente tomado por reflexões envolvendo o passar do tempo, as prioridades do dia a dia, a automatização pela rotina, tempo de qualidade, finitudes e fugacidade da vida, a potência dos momentos simples que não dependem de dinheiro, e claro, se brinquei de cavalinho o suficiente para ter criado memórias que nem o tempo vai apagar da nossa mente…
Que porrada!
Até “ontem”, minha bebê saracoteava pela casa com a bundinha cheia de fraldas e eu a colocava nos ombros com uma mão só. É como se houvesse certeza de que cavalinho, que era nosso intocável momento papai-filhinha, não tinha prazo de validade. Mas tinha!
Ela está chegando aos 11 anos, transição para a adolescência, quase não quer saber mais do papai, toda independente, enfim… a bichinha simplesmente cresceu e me deparei com a realidade de que não tenho qualquer domínio sobre os ciclos.
Um dia coloquei meu amor no cavalinho pela última vez, só que nenhum de nós dois sabíamos que era a última.
Será que fui um pai presente e afetuoso na medida certa até aqui?
Bom… estando ou não satisfeito com meu desempenho, é preciso ser racional: o que foi, foi. Já era. O que tem pra hoje é o daqui pra frente.
Paternidade é um casamento entre senso de urgência, senso de responsabilidade e poço de sensibilidades, afinal, nada pode ser mais importante do que entregar ao mundo um ser humano melhor do fui e tenho sido.
Por isso, pensar é preciso: sigo na manutenção dessa boa estrada que tenho pavimentado ou preciso recalcular a rota para ser melhor do que fui até o momento?
E vocês, já tiveram algum “start” ou marco com pessoas que amam – e que lhes fizeram refletir sobre a passagem do tempo e o que estão fazendo com ele?